
Brasília - 26/06/2005 - Coréia do Sul e Espanha são exemplos de como
gastos de longo prazo no ensino podem render frutos para o
desenvolvimento. Coréia do Sul, Cuba e Espanha estão em diferentes continentes e não
concordam muito no que diz respeito ao regime de governo, às políticas
econômicas e até sociais. Mas os três países tomaram, cada um a seu
tempo, uma decisão fundamental: apostaram no investimento ininterrupto e
maciço na educação.
O mesmo aconteceu com Japão, Índia e vários outros
países do mundo. Mas não com o Brasil. “Temos muito o que aprender com
esses exemplos”, afirma Tomas Zinner, presidente do Conselho do Instituto
Unibanco. “É fato: nenhum país do mundo mudou sem priorizar a
educação. E isso só acontece se colocarmos dinheiro”, completa o
presidente da organização não-governamental (ONG) Educafro, frei David
Santos. Na Índia, a escolha esteve centrada no ensino tecnológico e
também na educação a distância. Em Cuba, a força matriz está na formação
das crianças. “Temos que olhar os exemplos de perto, mas engana-se
quem pensa que é possível implementar mecanicamente as experiências de
outros países no Brasil”, explica o ministro da Educação, Tarso Genro. “O
Brasil tem suas próprias características políticas, econômicas e sociais.” No
final do ano, Tarso irá a Nova Deli, na Índia, junto com o ministro da África
do Sul. “Vamos trocar idéias”, explica. Dos indianos, o Brasil está de olho na
revolução educacional baseada na evolução tecnológica. “A África do Sul
tem interessantes políticas afirmativas que foram implementadas após o
apartheid.” Sucesso - A Coréia do Sul é exemplo recorrente de país que
deu certo por causa da educação. Em 1960, o país asiático era um típica
nação subdesenvolvida, com baixos índices sociais, econômicos e grandes
taxas de analfabetismo, por causa de uma guerra civil que deixou 1 milhão
de mortos. Hoje, a Coréia exibe uma economia em pleno crescimento,
capaz de dobrar de tamanho a cada década. Sua renda per capita cresceu
quase vinte vezes nos 40 anos que se passaram. Neste período, os
sul-coreanos praticamente erradicaram o analfabetismo e colocaram mais
da metade dos jovens nas universidades. No Brasil, as estatísticas são
inversas: apenas 9% das pessoas com idade entre 18 e 24 anos
conseguem entrar no ensino superior; 11,8% dos adultos são
completamente analfabetos; e 26% da população com mais de 15 anos
(32,1 milhões) é analfabeta funcional. Ou seja tem menos de quatro anos de
estudo e não possui as habilidades necessárias para satisfazer as
demandas do seu dia-a-dia e se desenvolver pessoal e profissionalmente.
“Para os países asiáticos, como a Coréia e o Japão, a educação é quase
sagrada”, argumenta Tomas Zinner. Entre as políticas adotadas, nos anos
60, pela Coréia dos Sul para aumentar os índices educacionais do país,
uma das mais eficientes foi a concentração do investimento público na
educação fundamental e no ensino técnico. Segundo um exame
internacional feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) para avaliar o rendimento escolar, em quarenta países,
a Coréia alcançou o terceiro lugar em Matemática e o quarto em Ciências,
enquanto o Brasil ficou, respectivamente, com a última e a penúltima
colocações nas duas matérias. O estudo foi divulgado no final do ano
passado. Pacto - Na Espanha, a solução veio quando todos os partidos
políticos concordaram que, qualquer que fosse o presidente eleito, a
educação seria prioridade. Isso impediu, por exemplo, que as políticas
educacionais fossem alteradas a cada mandato. A reforma da educação
espanhola, que hoje garante acesso ao ensino médio a 79,5% dos jovens
entre 15 e 19 anos, começou na década de 70. No Brasil, pouco mais de
30% dos adolescentes nessa faixa etária estão no ensino médio. Acesso à
escola, eqüidade e qualidade constituem o tripé do sistema espanhol
construído nos últimos vinte e cinco anos. A mudança começou ainda sob o
governo de Augusto Franco. Depois da morte do ditador, em 1975, as
forças democráticas construíram o Pacto de Moncloa, celebrado entre o
governo, os partidos políticos e os sindicatos, que deu impulso às reformas.
Foi o pacto que permitiu duplicar o orçamento da educação pública, entre
1977 e 1980, e registrar na história do país decisões importantes como a
dos trabalhadores que abriram mão de receber aumentos salariais para
garantir a cota da investimento na instrução no orçamento do Estado. As
principais marcas da educação neste país estão na obrigatoriedade do
ensino para crianças com idade a partir dos três anos e a valorização dos
professores que têm horários reduzidos, mas com dedicação exclusiva.
FONTE:
Correio Braziliense
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