O drama de um acidente de estudantes

Estes dias foi no Vale do Taquari que um acidente de ônibus vitimou pessoas. Agora foi em Dois Irmãos. Mais uma vez, o trânsito leva vidas embora, deixa seqüelas físicas em quem escapou com vida do acidente e, o que é pior, deixa seqüelas principalmente emocionais, em outras vidas, como dos familiares e amigos.

Quem esteve no local logo depois que o acidente aconteceu viveu uma experiência que não vai esquecer tão cedo. A grande maioria fechou os olhos para dormir, já na madrugada de terça, mas no sono não veio.

O drama, o desespero, feridos tentando socorrer feridos, a espera de uma ambulância que vem rápida, mas que parece levar uma eternidade. Pessoas retiradas da lata retorcida que virou o ônibus são deitadas no asfalto até chegar o socorro. Quem chega e vê esta cena, não sabe se está vendo pessoas ou corpos, feridos leves ou gravemente feridos.

São momentos difíceis de esquecer, mas fica algo muito positivo disso que foi a união e a solidariedade, onde moradores viraram bombeiros ajudando a salvar vidas, onde ambulâncias de cinco municípios e sete corpo de bombeiros vieram para o acidente, para trabalhar, para socorrer, para salvar vidas.

Mas o pior é a dor. A dor porque um pai e uma mãe de família partiram. Uma tentando se salvar e outra pessoa, tentando salvar as outras. Mais que a dor dos ferimentos pelo corpo, ficou a dor dos que escaparam, dos que nasceram de novo, enfim, dos familiares e amigos das vítimas.

Mas a dor maior é saber que esta gente toda tinha trabalhado o dia inteiro e havia feito cerca de 40 km para estudar. Em sua maioria, pais e mães de família que tiveram que abandonar o estudo em algum lugar do passado para ter que trabalhar, agora haviam rompido as barreiras para voltar a estudar. Primeiro, tiveram que ajeitar o estudo na vida familiar, dividindo livros com filhos e com trabalho. Depois, romper a barreira da vergonha, pois muitas pessoas ainda hoje, não voltam aos estudos por vergonha.

Mas estas pessoas, que uns dizem ser em número maior do que 40, romperam todas as barreiras e voltaram aos estudos. E o pior, além do trabalho, família e problemas, todas as noites, encaram uma viagem até Picada Café, porque aqui na região, nenhuma cidade, nenhuma autoridade nunca brigou de verdade para implantar o EJA Ensino Médio, senão ele estaria funcionando.
Mas estas pessoas, que uns dizem ser em número maior do que 40, romperam todas as barreiras e voltaram aos estudos. E o pior, além do trabalho, família e problemas, todas as noites, encaram uma viagem até Picada Café, porque aqui na região, não tem EJA Ensino Médio. Será que lutamos o suficiente pela sua instalação?

A vontade estudar, a vontade aprender, a vontade ter estudo para melhorar de vida, estando com 20, 30 ou 40 anos, fez estas pessoas irem a Picada Café e, tomara, que faça com que todos continuem seus estudos. Na noite do acidente, entre os estudantes e amigos, não foram poucos os que diziam que nunca mais iriam botar os pés em um ônibus ou que nunca mais voltariam a estudar em Picada Café. E agora?

Hoje não precisamos de mensagem positiva do dia. A maior mensagem é esta desta turma de guerreiros que merece nossas lágrimas e sorrisos.
(quarta, 24/09/08)